Núcleo de Estudos de Políticas Públicas
Tecnologia e Inovação na Atenção Básica à Saúde
NEPP
27 Set 2018
NEPP
Tecnologia e Inovação na Atenção Básica à Saúde


 “Quanto custa um paciente SUS no seu município?”.  Essa pergunta feita por Lucas Alexandre Pedebos gerente de Inteligência e Informação da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis, e dirigida ao público formado por gestores municipais de saúde resume a falta de informações precisas dos indicadores da saúde pública no país e, em especial, na região de Campinas. Sem saber quanto custa o atendimento de um paciente como os municípios podem planejar o orçamento que será destinado ao item saúde? 


O custo paciente SUS e outros temas fizeram parte do seminário organizado pelo Programa de Estudos em Sistemas de Saúde do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Unicamp (PESS/NEPP) ocorrido, no último dia 21 de setembro, no auditório da Divisão Regional de Saúde de Campinas (DRS). O seminário intitulado: “Tecnologias e Inovações na Atenção Básica à Saúde” contou com a participação de mais de 60 profissionais da área da saúde, dentre eles gestores de 11 municípios da Região Metropolitana de Campinas. 


O objetivo do seminário era mostrar uma discussão atualizada sobre três áreas com alto impacto tecnológico que contribuem e podem melhorar o desempenho do atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). 


As apresentações ficaram sob responsabilidade do professor José Wilson Magalhães Bassani, titular da Faculdade de Engenharia Elétrica da Unicamp (FEE) e vice coordenador do Centro de Engenharia Biomédica da Unicamp (CEB); Lucas Alexandre Pedebos gerente de Inteligência e Informação da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis e Domingos Guilherme Napoli gerente Médico da Central de Regulação de Ofertas de Serviço de Saúde (CROSS), da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. 


Gestão e Tecnologia em Saúde 


O primeiro palestrante da manhã foi o professor José Wilson Magalhães Bassani que explanou sobre “Gestão de Tecnologias em Saúde”. Magalhães Bassani foi um dos criadores, há trinta anos, do pioneiro Centro de Engenharia Biomédica da Unicamp (CEB), no Brasil. Esse Centro, desde sua criação, é responsável pelo inventário e manutenção dos equipamentos do complexo hospitalar da Unicamp que envolve Hospital das Clinicas, CAISM, Hemocentro, Gastrocentro etc. 


Ao abrir sua apresentação, Bassani destacou que “a minha preocupação, enquanto pesquisador, é da tecnologia em saúde” e, como resultado do seu trabalho de pesquisa apresentou o software desenvolvido pelo Laboratório Nacional de Gestão de Tecnologia em Saúde, do CEB, sob sua responsabilidade, que consiste num programa, de uso livre, para gerenciamento dos equipamentos de uso hospitalar, que vão desde simples estetoscópio até os mais sofisticados aparelhos de tomografia. 


Esse software livre permite o controle dos equipamentos com tal precisão que indica o tempo de vida útil de cada unidade; a viabilidade da implantação de serviço de manutenção em uma unidade de saúde, em especial nas médio e grande porte, e o mais importante para gestor público, o custo unitário da manutenção de cada item. Essa ferramenta de controle é tão precisa que pode detectar, por exemplo, a necessidade de troca dos manguitos dos esfigmomanomêtros. 


A busca da redução dos custos em hospitais foi o objetivo primeiro dessa ferramenta que já é utilizada há anos no HC da Unicamp, e começa a ser utilizada pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, ligada ao Ministério da Educação, em suas 40 unidades hospitalares que compõem a rede de Hospitais Universitários Federais.  


Exemplo de Florianópolis


O segundo palestrante foi o gerente de Inteligência e Informação da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis, Lucas Alexandre Pedebos que fez breve histórico da implantação do sistema informatizado da capital catarinense que atinge 100% da rede pública. 


De acordo com Pedebos esse processo, que inclui toda a rede pública de saúde num mesmo sistema, teve início em 2002. Passados 16 anos da implantação do serviço, Lucas afirma com convicção que “hoje os médicos entendem a importância de uma rede de saúde totalmente informatizada para o controle clínico do paciente”.  


Depois de explicar que esse software foi desenvolvido por uma empresa contratada para criar uma ferramenta que levasse em conta as características da Florianópolis de 2002, afirmou que “hoje existe um amadurecimento do mercado de tecnologia da informação para a área da saúde e estão disponíveis no mercado inúmeros softwares de gerenciamento na área da saúde”. 


Lucas Pedebos explicou ainda que os gestores públicos podem contar hoje com três modelos para contratação para a obtenção de softwares na área da saúde. Em um deles,o mais caro, contrata-se uma empresa de computação para desenvolver software específico para uma cidade ou uma rede de Atenção Básica à Saúde. Este foi o modelo adotado em Florianópolis no início do século XXI. 


O segundo modelo de contratação, mais econômico, é o chamado software de prateleira, ou seja, existe a possiblidade que uma cidade ou uma macrorregião adquiram um software, já existente no mercado. Neste caso será necessária a realização de manutenções regulares de atualização que envolverão custos mas, em contrapartida, o município ou macro região passam a ser detentoras da ferramenta. A terceira opção seria o aluguel de software que pode ser mais econômico. Lucas, no entanto, alerta que essa decisão deve ser técnica e política. 


O gerente de Informática da capital catarinense destacou ainda que a informatização da saúde é importante, porém o mais relevante é que a equipe técnica saiba interpretar os dados coletados pelo sistema. “É preciso”, destacou Lucas, “estruturar as questões que devam ser coletadas e devemos ter seletividade nessas informações”. Essa advertência que ele faz tem um sentido, pois, de acordo com seu raciocínio “é melhor não ter dado nenhum a ter dados coletados erroneamente”. “Os dados coletados de forma indevida levam os gestores adotarem a prática de uma política errônea”. 


Mostrou ainda como o sistema implantado em Florianópolis melhorou o atendimento do segurado do SUS. O uso de aplicativos como WhatsApp para agendamento de consulta e o simples informe que o remédio distribuído não esteja disponível “evita o deslocamento desnecessário do usuário”, destaca o gerente de Informática. 


“É melhor ter um sistema informatizado, mesmo que pequeno do que não ter nenhum”. Essa advertência de Lucas é reforçada por um outro exemplo que ele apresentou em seguida:” Uma pesquisa da FGV aponta que para cada um 1% por cento investido em TI o retorno é de 7% de economia para as contas públicas, após 2 anos”. 


Outro ponto positivo do uso da TI na saúde, apontado por Lucas e que vai ao encontro à proposta do professor Bassani é com relação ao uso das informações que possibilitem, por exemplo, detectar equipamentos fora de operação. “Equipamento parado é sinônimo de profissional parado e usuário sem atendimento”. 


Outro alerta importante ressaltado pelo gerente de TI é que o “uso de softwares ruins acaba desarticulando a rede de saúde” e emendou seu argumento com outro ponto de destaque: os municípios devem obrigatoriamente contar com equipe especializada para manutenção dos softwares de gestão. 


O ponto alto da sua apresentação foi mostrar que a informatização da área da saúde de um município, ou macrorregião, pode servir como um poderoso instrumento de gestão para os administradores públicos. No caso específico de Florianópolis “é possível saber quanto o valor real de uma consulta ou um procedimento cirúrgico de cada um dos usuários do sistema SUS”, finalizou Lucas. 


 




Regulação em São Paulo


O Estado de São Paulo conta, há quase uma década, com um sofisticado sistema em operação na Central de Regulação de Ofertas de Serviço de Saúde (CROSS), da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. E foi para falar dessa experiência que o gerente médico da unidade, Domingos Guilherme Napoli esteve na DRS Campinas. 


Napoli iniciou sua fala fazendo um histórico da criação e implantação da CROSS onde está desde a concepção original do sistema informatizado de controle de vagas para regulação em todo o território paulista, dividido em 17 DRS, dos casos emergência médica. 


Para o desenvolvimento do software de operação da CROSS, a Secretaria Estadual de Saúde contratou uma equipe de engenheiros e especialistas em informática que trabalhou lado a lado com o grupo de médicos liderados por Domingos Napoli. 


Diariamente a CROSS regula mais de 1200 atendimentos médicos de emergência que envolve a participação de centenas de pessoas. Napoli cita como exemplo o “caso de uma emergência de uma pessoa que sofreu fratura exposta num acidente doméstico numa cidade de mil habitantes.  O médico local envia mensagem para CROSS que regula o atendimento, muitas vezes, distante da região do fato ocorrido, mas de forma eficiente, onde o caso clínico poderá ser atendido. “O importante no nosso trabalho” destaca Napoli “é que desde que uma solicitação de emergência entra no nosso sistema o maior tempo de solução é de 6 horas”.   


Se antes o sistema CROSS era centralizado na capital paulista, hoje o software é aberto aos municípios para que o usem para regulação apenas municipal ou regional. Campinas, por exemplo, já vem utilizando o sistema CROSS para regulação emergencial.


Domingos Napoli também destacou que a CROSS está implantando telemedicina para análise de imagens, uma projeto piloto na cidade de Porto Ferreira. “Esse serviço possibilitará a redução de custos tanto de atendimento, bem como, na logística de transporte de pacientes para as referências de maior complexidade situadas em outros municípios da região”. 


Outra inovação, também em experiência na capital paulista, é o chamado hospital virtual, isto é, existem hoje 120 pacientes crônicos em assistência domiciliar que estão sendo monitorados à distância através do uso de aplicativos de celular. Esses pacientes ficam nas suas casas e os cuidadores dessas pessoas, familiares ou pessoas contratadas, são treinadas para enviar várias vezes por dia, via aplicativo, as informações vitais de monitoramento do paciente. Em caso de alteração desses indicadores uma equipe de emergência é enviada à casa do paciente. 


Napoli finalizou sua apresentação informando aos presentes que “outra novidade é que a CROSS está testando o uso do software para microrregião que possibilita contato direto entre duas ou mais cidades”. 


Finalizando o seminário, os palestrantes responderam perguntas e comentários da audiência.


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