Núcleo de Estudos de Políticas Públicas
Despedida a Paul Singer
NEPP
18 Abr 2018
Os intelectuais brasileiros estão de luto com o passamento do economista Paul Singer, aos 86 anos, ocorrido no último dia 16 de abril de 2018, na capital paulista.

Paul Singer nasceu, no dia 24 de março de 1932, na cidade de Erlaa, localizada no subúrbio operário de Viena, capital da Áustria e sua família era constituída de pequenos comerciantes judeus. Em 1938 a Alemanha nazista anexou o território austríaco e teve início perseguição às comunidades judias. A família de Singer decidiu emigrar e, em 1940, radicou-se no Brasil, onde alguns familiares já estavam estabelecidos na cidade de São Paulo.

Em 1951, Paul Singer concluiu o ensino médio em eletrotécnica, na Escola Técnica Getúlio Vargas, na capital paulista e exerceu a profissão entre os anos de 1952 e 1956. Nesse período, filiou-se ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e entrou para o movimento sindical. Como trabalhador metalúrgico, liderou a histórica greve dos 300 mil, que paralisou a indústria paulistana por mais de um mês, ao longo do ano de 1953.

Posteriormente, estudou economia na Universidade de São Paulo, ao mesmo tempo em que desenvolvia atividade político-partidária, no Partido Socialista Brasileiro (PSB). Graduou-se em 1959, no mesmo ano participou da fundação da Polop, organização política constituída por membros da ala esquerda do PSB.

Em 1960, teve início sua atividade docente na Universidade de São Paulo, como professor assistente. Em 1966, obteve o grau de doutor em Sociologia com um estudo sobre desenvolvimento econômico e seus desdobramentos territoriais, abordando cinco cidades brasileiras – São Paulo, Belo Horizonte, Blumenau, Porto Alegre e Recife - na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Sua tese deu origem ao livro "Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana", sob orientação do professor Florestan Fernandes. Paul Singer também foi professor-titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.

Entre 1966 e 1967 estudou demografia na Universidade Princeton, nos Estados Unidos e, em 1968, apresentou sua tese de livre-docência "Dinâmica populacional e Desenvolvimento". Nesse mesmo ano, retomou suas atividades como professor da USP até ter seus direitos políticos cassados pelo AI-5 e ser aposentado compulsoriamente, em razão de suas atividades políticas, em 1969.

Amargou as dores do regime ditatorial que se instalara no país junto a vários outros pesquisadores e professores expulsos da universidade ou que simplesmente discordavam do regime imposto pela força das armas.

Dividiu suas angústias com Celso Lafer, Eunice Ribeiro Durham, Fernando Henrique Cardoso, José Arthur Giannotti, Ruth Corrêa Leite Cardoso, Carmen Sylvia Junqueira, Paulo Sandroni e juntos participaram da fundação do CEBRAP - Centro Brasileiro de Análise e Planejamento - que se constituiu no mais importante núcleo da intelligentsia brasileira de oposição à ditadura militar, então vigente no país. Atuou no CEBRAP até 1988, antes de ser nomeado Secretário Municipal de Planejamento de São Paulo, na gestão da prefeita Luiza Erundina. Manteve-se no cargo todo o mandato de Erundina que terminou em 1992.

Retorno à Universidade

Com a anistia decretada em 1979, voltou à atividade docente, como professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), onde permaneceu por quatro anos, tendo sido chefe do Departamento de Economia e membro do Conselho Universitário.

Em 1980 ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores, ao lado de outros intelectuais historicamente ligados à esquerda, como Francisco Weffort, Plínio de Arruda Sampaio, Perseu Abramo, Mário Pedrosa, Sérgio Buarque de Holanda, Chico de Oliveira e Vinícius Caldeira Brant.

No ano seguinte, em 1981, integrou a 1ª Diretoria Executiva da Fundação Wilson Pinheiro, fundação de apoio partidária instituída pela PT, antecessora da Fundação Perseu Abramo.

Trabalhando com o tema da economia solidária, Paul Singer ajudou a criar a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da USP em 1998, quando foi convidado pela CECAE a assumir o cargo de coordenador acadêmico da incubadora. A partir de junho de 2003, Singer passou a ser o titular da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), que implementou, a partir de junho de 2003, no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego.

Em 13 de março de 2009 foi condecorado com a Grande Ordem do Mérito da República da Áustria, em cerimônia realizada na residência do Cônsul Geral da Áustria, em São Paulo.

Viúvo da socióloga Melanie Berezovsky Singer (1932-2012), era pai do cientista político André, da jornalista Suzana e da socióloga Helena.

Paul Singer morreu em São Paulo, em 16 de abril de 2018.

Deixa vastíssima obra

Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2002.
Para entender o mundo financeiro. São Paulo: Contexto, 2000.
O Brasil na crise: perigos e oportunidades. São Paulo: Contexto, 1999. 128 p.
Globalização e Desemprego: diagnósticos e alternativas. São Paulo: Contexto, 1998.
Uma Utopia Militante. Repensando o socialismo. Petrópolis: Vozes, 1998. 182 p.
Social exclusion in Brazil. Geneva: Internacional Institute for Labour Studies, 1997. 32 p.
São Paulo's Master Plan, 1989-1992: the politics of urban space. Washington, D.C.: Woodrow Wilson International Center for Scholars, 1993.
O que é Economia. São Paulo: Brasiliense, 1998.
São Paulo: trabalhar e viver. São Paulo: Brasiliense, 1989. Em co-autoria com BRANT, V. C.
O Capitalismo - sua evolução, sua lógica e sua dinâmica. São Paulo: Moderna, 1987.
Repartição de Renda - ricos e pobres sob o regime militar. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.
A formação da classe operária. São Paulo: Atual, 1985.
Aprender Economia. São Paulo: Brasiliense, 1983.
Dominação e desigualdade: estrutura de classes e repartição de renda no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
SINGER, P. I. (Org.); BRANT, V. C. (Org.). São Paulo: o povo em movimento. Petrópolis: Vozes, 1980.
Guia da inflação para o povo. Petrópolis: Vozes, 1980.
O que é socialismo hoje. Petrópolis: Vozes, 1980.
Economia Política do Trabalho. São Paulo: Hucitec, 1977.
A Crise do Milagre. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
Curso de Introdução à Economia Política. Rio de Janeiro: Forense, 1975.
Economia Política da Urbanização. São Paulo: Brasiliense, 1973.
A cidade e o campo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1972. Em co-autoria com CARDOSO, F. H.
Dinâmica Populacional e Desenvolvimento. São Paulo: Hucitec, 1970.
Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana. São Paulo: Editora Nacional, 1969.
Desenvolvimento e Crise. São Paulo: Difusão Européia, 1968.

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